quinta-feira, 4 de junho de 2015

Hora da Cozinha - Ossobuco na pressão + Feijão Carioca Caseiro

Olá, amores!

Nesse feriado de Corpus Christi nublado aqui em Rio Branco, seria insano não fazer uma comidinha bem caseira e quentinha. Logo, apelei pra vedete carne ensopada+feijão+arroz. Mãããs, como eu gosto de dar uma boa firula nas receitas, preparei tudo daquele jeitinho. Simbora?



Ossobuco na pressão
Rende 4 porções

- 1,5kg de ossobuco (ou canela com osso, é a mesma coisa)*
- 2 cebolas grandes em rodelas
- 1 alho-poró picado (usei apenas as partes verdes, mas pode-se usar ele todo também)
- 1 sachê pequeno de extrato de tomate
- Óleo de soja
- 3 dentes de alho
- Vinagre de maçã
- Alecrim
-1/4 de linguiça calabresa em rodelas
- Sal a gosto
-500 ml de água
-Salsinha


Modo de preparo

Antes de tudo, façamos uma "vinha" d'alho com o vinagre, o alecrim, o sal e o alho. Coloque o ossobuco e reserve. De preferência, na véspera do preparo, para que os temperos penetrem bem na carne.Feito isso, selar os ossobucos numa panela de pressão, tirando as peças e reservando para que todas fiquem seladas de ambos os lados. Agora, vamos montar a panela no esquema: coloque a carne, as rodelas de linguiça, a cebola com alho-poró e duas colheres do extrato, até cobrir a panela. Cobriu a panela? Agora despeje COM CUIDADO, ao redor da carne, coisa de 500ml de água. Se despejar direto, a carne perde a cor, o sabor, o borogodó... Broxa o prato todo.
Complete com um pouco de salsinha picada no topo, feche e conte 45 minutos após levantar pressão, abaixando o fogo. 
DICA: Caso queira incrementar o prato, pique umas batatas e, após esses 45 minutos, apague o fogo,tire a pressão e acrescente as lindezas, cozinhando na pressão por mais uns 15 minutos.
Agora, se você é gatx garotx que resolveu fazer de última hora e não pensou nas batatas como eu, os 45 minutos já valem para cozer a carne, apagar o fogo, tirar a pressão e servir, guarnecido com uma salsinha picada.

*Caso queira a carne menos gordurosa, retire o tutano. Aproveite para aquecê-lo, coar e usar para umectação no cabelo. Prometo um post sobre isso em breve.

Agora, vamos pro feijão, que bem poderia estrelar solo no almoço. Vai da consciência (e do estômago) de cada um.


Feijão Carioca Caseiro
Rende 8 a 10 porções


- 500g de feijão carioca cozido
- Água a gosto (para quem curte muito caldo, como eu)
- 3/4 de linguiça calabresa em rodelas
- 1 dente de alho
- 1/2 cebola
- 3 pimentinhas de cheiro
- 3 folhas grandes de chicória-do-norte
- 1 maço de cheiro-verde (cebolinha e coentro)
- 2 abóboras paulistas em cubos
- Sal a gosto

Modo de preparo
Frite a linguiça com um mini pingo de óleo, só para não grudar muito. Acrescente o alho, a cebola e a pimentinha de cheiro e refogue. Coloque o feijão cozido, acrescente água, a chicória-do-norte e o cheiro-verde bem picadinhos, as abóboras (com casca, caso sejam orgânicas) e acerte o sal. Deixe cozer coisa de 20 minutos após levantar fervura. Verifique a abóbora e, caso esteja macia, prontocabô. Pode servir com um arroz quentinho, se pá uma farofa e seja feliz.

Tanto o ossobuco quanto o feijão são ideais para o feriado, porque dá aquela moleza básica pós-pratada. Enjoy <3

terça-feira, 2 de junho de 2015

Utilidades da fralda de pano


Bom dia, pessoas do meu coração <3


Querem uma dica rápida e esperta na hora de montar o enxoval, ou até mesmo de compras após o nascimento do bebê?

Comprem muita, mas muita fralda de pano. Mesmo que só utilizem fraldas descartáveis.
Por que?


As fraldas de pano servem, dentre outras coisas, para:
  • Forrar o ombro para colocar o bebê no colo (e aparar gorfo)
  • Forrar o bebê-conforto
  • Forrar aqueles assentos de carrinho de supermercado, porque às vezes eles não limpam tão bem e sempre tem uma sujeirinha, visível ou invisível
  • Fazer as vezes de cueiro/manta na hora do aperto.Por exemplo: você saiu com apenas uma manta para a consulta no pediatra e o bebê fez xixi/regurgitou na manta (aconteceu comigo na primeira consulta dele fora do hospital, hauhauah)
  • Com ajuda de uma fita crepe, fazer rolinhos para formar o ninho no berço (prometo uma postagem para um tutorial, aprendi essa lá na UTIneo)
  • Enrolar o bebê na hora do banho. Empacotadinhos, os recém-nascidos se sentem mais seguros quando entram na água 
  • Secar o bebê após o banho, numa emergência, caso todas as toalhas-fraldas estejam sujas, por exemplo. É só colocar a fralda entre o bebê e uma toalha limpa e felpuda e voilà, crisis averted.
  • Forrar o trocador para aparar quaisquer respingos. Dica MUITO útil em caso de bebês com pênis, porque eles A-M-A-M ligar a mangueirinha naquele microssegundo em que você troca a fralda suja pela limpa
  • Servir como babador e aparar respingos de leite, principalmente em caso de bebês que tomam fórmula na mamadeira
  • Forrar o recipiente onde se colocam as mamadeiras, chuquinhas e chupetas esterilizadas
  • Aquecer no micro-ondas por uns 20 segundinhos e colocar na barriga do seu bebê, para aliviar as cólicas. As mães mais alternativas como eu podem até pingar uma gotinha de óleo essencial de lavanda para acalmar a cria.
Meu gotoso com uma fraldinha 


Façam questão de comprar, se puderem, fraldas com uma quantidade grande de fios.Quanto mais fios tiver, mais macia ao toque da pele do seu bebê ela vai ser e, à medida em que for lavando, ela vai ficar mais macia ainda. Pode ser meio carinho, mas pense como um investimento.

Outra coisa: embainhem as fraldas, senão elas vão soltar fiapos- e muitos! No verso da embalagem das fraldas Cremer (a melhor, na minha opinião) que comprei pro Dudu  recomendavam costurar as bainhas, para aumentar a durabilidade. Bainha simples mesmo,de máquina de costura, para não machucar muito a pele do bebê. Deixem as bainhas mais elaboradas de crochê para aquele paninho de boca de passeio.

 E pra quem já tem mais tempo de maternagem: como vocês fazem com as fraldas de pano? Tem mais algum uso? Deixem a dica nos comentários! =)

Beijão!

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Hora da Cozinha - Frango Frito Estilo Southern + Mac and Cheese (@barbrs style)

Olá, pessoas!
Uma das coisas que prometi a mim mesma depois que o Dudu nasceu foi me desafiar nas coisas que gosto, como culinária. Como diz minha mãe, sempre estou de invenção e curto fazer uma comida mais metida a besta, ainda que as receitinhas de hoje não são lá muito metidas, mas bem ao estilo da cozinha do sul dos Estados Unidos, bem comfort food. Sugiro fazer primeiro o Mac and Cheese, para não haver muita distração na hora de fritar o frango.
Então, shall we?




Mac and Cheese (@barbrs style)
Rende 6 a 8 porções bem generosas

-1 pacote (500g) de macarrão estilo cotovelo (ou tortine, usei o da marca Liane)
-1 dente de alho
-1/2 xícara de farinha de trigo
-2 a 3 copos de leite integral
-1 colher (sopa) de óleo
-sal a gosto
-noz-moscada que baste
-1/2 pacotinho de caldo de galinha em pó
-1/2 copo de requeijão

Modo de preparo
Não tem taanto erro na hora de cozinhar o macarrão: joga ele numa panela de 2 litros, cozinha de 6 a 8 minutinhos. Escorre, dá aquele choque térmico básico e reserva. Vamos ao molho, um béchamel bem sem-vergonha.
Refogue o dente de alho brevemente. Acrescente a farinha de trigo e o caldo de galinha e continue refogando tudo, no seco, como se fosse fazer uma farofa, até ela dourar (é o chamado roux). Dourou? Coloque BEEEM devagarzinho o leite misturado com a noz-moscada, mexendo bem pra não empelotar. Empelotou? Apaga o fogo, bate no liquidificador e volta à panela, simples assim.Deixe levantar um mínimo de fervura, acrescente o requeijão e acerte o sal. Misture o macarrão nesse molho branco cremoso, abaixe o fogo e deixe os sabores penetrarem na massa por 5 minutos no máximo. Terminado esse tempo, é apagar o fogo, tampar a panela e reservar.




Frango Frito Estilo Southern
Rende 6 a 8 porções


-1 kg de coxinha da asa (usei a da Sadia)
-2 filés de peito de frango em cubos grandes
-1 xícara e meia de farinha de trigo
-3 colheres (sopa) de tempero lemon pepper
-sal a gosto
-óleo para fritar

Modo de preparo
Num recipiente, misture o tempero, uma pitada de sal e a farinha de trigo.Deixe a coxinha da asa e o peito descongelarem por, no máximo 20 minutos. Para a receita dar samba, eles tem que estar meio durinhos ainda. Junte o frango no saco da coxinha da asa, despeje a mistura previamente feita, sele o saco e chacoalhe, chacoalhe muito, de preferência ao som de Shake Your Groove Thing. Enquanto chacoalha, deixe uma panela grande com meia lata de óleo esquentando. Sim, essa receita leva muuuito óleo, porque aí com muito óleo e bem quente, o frango vai sair sequinho. 
Frite as belezinhas até dourar bem, escorra com uma escumadeira e coloque no papel-toalha.

Depois, é só servir junto com a bebida de sua preferência. Aqui é Guaraná zero, mas pode também um suco de laranja.
Se desejar, pingue rodelas de limão no frango.


E aí, gostaram? Quem experimentar fazer, dá um bizu nos comentários.
Beijos!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Mais uns ritos de passagem PARTE 4 - FINAL

Leia sobre a parte 1 nesse link
Leia sobre a parte 2 nesse link
Leia sobre a parte 3 nesse link


Enfim, a Enfermaria Coruja. O lugar por onde eu sempre passava e sonhava em estar lá com o Dudu. Qual não foi a minha alegria ao encontrar no leito ao lado uma das mães com quem havia feito amizade. Impossível conviver tantos dias a fio e não formar pelo menos uma amizade.

O capitão da Enterprise do meu coração <3

Foi no Coruja que o umbigo do Dudu caiu. Foi lá que eu comecei a cuidar do meu filho 24 horas por dia, com a supervisão da equipe de Enfermagem e da ronda pediátrica, que ocorria uma vez ao dia. Foi lá também que abandonei o hábito de dormir uma noite inteira, porque tinha de administrar o leite do Dudu na sonda a cada três horas. O primeiro colo que o noivorido deu ao filho foi na Enfermaria. Comecei a formar minha identidade de mãe "normal" dentro daquele setor.




Foi lá que ele tomou o primeiro banho, dado pela enfermeira. Nos outros, fui eu e somente eu.Até hoje só quem dá banho nele sou eu.
Pensem num troço chatinho dar banho com cuidado pra sonda não molhar, hahaha

No Coruja, começaram as estimulações com a fonoaudióloga para que ele pegasse o peito. Não pegou, nem eu produzia leite o suficiente, mesmo com toda a ordenha e com os mugunzás que eram servidos para as pacientes. Após sentar com a pediatra, ela me deu o aval pra dar mamadeira e fórmula. De soja, porque o Dudu apresentava intolerância braba à lactose, do tipo que, se tomasse uma gota de lactose, tinha diarreia com raias de sangue e assaduras horrendas.  
Em uma crise de cólicas, aprendi o bizu dessa posição com a Dona Eró <3


Após 8 dias no Coruja, Dudu recebia alta da sonda. Alta oficial, porque ele mesmo já tinha se dado alta na noite anterior, arrancando a sonda três vezes, hahaha.
Primeiro mês de vida, fazendo jus ao Big Boy e ao Dudão, hahahahahah

Essa carinha de joelho sem sonda nenhuma <3

Então, sem sonda, sem acesso venoso, tudo certo pra ele ir pra casa, certo?Errado. Ele precisou de mais nove dias para ter a tão sonhada alta, porque precisava ir diminuindo a dose do Fenobarbital, até chegar na dosagem mínima.  E tome mais exame de sangue, ultrassom da fontanela (que acusou uns pontos salientes na cabeça do Dudu).... A cada exame, meu medo de não sair dali aumentava ainda mais. O que me consolava era uma das enfermeiras, que dizia às mães impacientes que "mais longe já teve". Deveriam escrever essa frase na parede daquela enfermaria, sério.
Eu via minhas colegas, de casos tão ou mais escabrosos que o meu, recebendo alta com as crias e me perguntava quando seria nossa vez. 

E chegou a vez. No dia 19 de março de 2015. 

Não tinha conseguido dormir na noite anterior. Fiz uma lista de itens e pedi para minha mãe me entregar. Enquanto Dudu dormia, eu ia aos poucos retomando a vaidade que deixei de lado por conta do sofrimento da UTI. Ajeitei o cabelo e fiz as sobrancelhas. Depilei pernas e axilas, cumprindo a promessa de só me depilar quando Dudu recebesse alta. Cortei a pulseirinha do hospital, finalmente. Enquanto a pediatra assinava a papelada da alta, eu me maquiava e vislumbrava  poder tomar banho sem ter que calçar chinelos, deitar Dudu no berço que havia comprado, dormir na minha própria cama. Devo ainda mencionar que sim, estava cantarolando "estou indo embora/ a mala já está lá fora".

Com um dos anjos anteriormente citados, Enfermeira Vania <3
Papel assinado, finalmente pude vestir Dudu com a saída de maternidade que havia separado há um mês. Me despedi das colegas de enfermaria e, na saída, encontrei com uma enfermeira, agradecendo-a pela equipe maravilhosa que é a personificação da Humanização na Saúde.
Enquanto ia com Dudu para casa, não cabia em mim de felicidade. Era o fim do meu próprio Êxodo entre a terra das jovens mulheres para a terra das mães, processo que havia começado exatos 40 dias antes da alta. Quarenta dias de dor, aprendizado, alegria, fé e, sobretudo, batalha.
Dudu mal nasceu e já havia conseguido reunir pessoas de religiões diversas (cristãos- evangélicos, católicos e espíritas-, umbandistas e até neopagãos) para emanar vibrações de cura e ajudar na melhora dele.

"At laaaaast, my love has come along"
Em casa, na minha cama, que é onde ele pertence. <3

O que eu comecei a aprender nessa saga toda? Que devemos valorizar as pequenas coisas, agradecer a tudo e que, sobretudo, por filho a gente mata e morre.
Dudu é um bebê saudável, que apenas toma o Fenobarbital para controle e vai ao ambulatório do Coruja uma vez ao mês. É precoce, alegre e louco pela minha mãe e pelo meu sobrinho de 5 anos (e a recíproca é verdadeiríssima). Toda consulta com a pediatra é uma festa, porque ela sabe o quão pequenas eram as chances dele.Mas fazer o que? Dudu é teimoso desde o ventre.

O teimoso mais lindo desse mundo <3

Introduções feitas, aguardem pelos próximos posts, onde com certeza postarei dicas do que fui aprendendo, resenharei alguns produtos e espero trocar muitas informações e experiências.

A quem leu até aqui, obrigada pelos peixes e até a próxima!


Mais uns ritos de passagem PARTE 3

Leia sobre a parte 1 nesse link

Após passar 4 horas sem me mexer ou beber água, tomei o primeiro copo e  vieram falar comigo sobre o estado do Dudu.  
Fiz um esforço tremendo para me levantar da cama (lembrando que a cesariana corta umas 8 camadas do nosso corpo e depois tudo é suturado), tomar banho e ir na cadeira de rodas até a unidade neonatal da Maternidade.Foi uma caminhada dolorosa física e psicologicamente ir até ao bercinho onde estava meu filho, respirando em um C-PAP e tomando leite através de uma sonda orogástrica.
Um C-PAP neonatal funciona mais ou menos assim. Tirei a imagem desse site aqui


Sabem a culpa materna? Então, imaginem ela aumentando cada vez que vinha um pediatra ou enfermeiro me lembrar de que eu era diabética e que filhos de mães diabéticas apresentavam a síndrome de angústia respiratória que o Dudu tinha.  A culpa não diminuía, muito menos quando vinha uma enfermeira me falar do aleitamento materno. Eu, que sempre defendi amamentar em livre demanda e o desmame tardio, me vi sem leite. Sem leite e sem motivação pra tirar leite. Mais um plano por água abaixo e mais uma coisa da qual eu me sentiria culpada.

Para melhorar, uma pessoa bem próxima à família se aproveitou do fato de eu estar operada numa cama para dizer que todo aquele sofrimento era oriundo do fato do noivorido e eu estarmos "vivendo em blasfêmia" (sic). Imagina só meu bom-humor, né. Só consegui ouvir, calada, com medo de magoar.

Chegou a um ponto que eu não queria mais ver o Dudu, para não me inundar de culpa. Foi preciso minha mãe dar um chega pra lá em uma profissional e contar que eu não precisava ouvir toda hora aquilo, porque na minha cabeça eu estava esquematizando que a culpa era toda minha, não importasse o fato de que infelizmente acontecem essas intercorrências.

E haja intercorrência. Enquanto eu ainda estava internada, Dudu teve uma sepse precoce, precisando ser entubado e ir para a UTI, no isolamento. Tive alta do hospital, fui para casa e ele ainda lá, sendo cuidado pelos anjos carnais e espirituais.
Era basicamente assim que Dudu estava entubado. Foto tirada desse site aqui

Não possuo fotos do Dudu entubado porque foi um período extremamente doloroso. Ir para casa, então, foi muito difícil. Acho que todas as mães de UTI sabem a dor de ver todo mundo saindo com seu filho no colo e você ir para a casa de braços vazios.
Assim que chego em casa, me deparo com um bilhete que minha mãe fez e colocou na porta do quarto. Chorei assim que li.
Bilhete que minha mãe fez e colocou na porta do meu quarto no dia em que recebi alta do hospital. Mantenho ele pregado na porta até hoje
Se eu já era religiosa, acabei virando, nas palavras da minha mãe, uma beata - em pleno Carnaval, olha a ironia. Fiz muitas promessas, dentre elas a de incluir Jorge em seu nome.Foi aí que Dudu foi registrado Eduardo Jorge, não por causa do político, mas em homenagem e promessa a São Jorge, o Santo Guerreiro.


No dia 21 de fevereiro, 8 dias após o nascimento do meu guerreirinho, fui à UTI e ele estava apenas no capacete de oxigênio. Foi quando, após a permissão das enfermeiras, pude pegar meu filho no colo pela primeira vez.Comecei a crer que ele realmente melhoraria. 
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Primeira vez no colo, nós dois nesse amor <3


Tentei até dar de mamar a ele, mas ele não pegou o peito e chorava muito, um choro rouco de quem passou uma semana entubado. No domingo, 22, voltando de casa para a Maternidade, encontro a pediatra que cuidou do Dudu quando ele nasceu e ela estava com cara de preocupação. Pergunto o que ocorreu e ela diz que, enquanto eu tinha ido em casa tomar banho e tirar os pontos, Dudu teve uma convulsão e uma parada respiratória. Da UCI, ele voltou para a UTI, o tubo e mais medicação. Além da sonda orogástrica, ele tinha outra na uretra, para medir com precisão o volume de urina que ele excretava.
Ah, as medicações....Se eu já era bem ligada à Medicina, aprendi ainda mais sobre os esquemas, as bombas de infusão, os anticonvulsivos, antibióticos e sedativos aos quais submetiam meu filho.A rotina de, a cada três horas, pegar um êmbolo de seringa e a fórmula para administrar o leite. 

Na UTI eu dava leite quando ia, trocava fralda (pesava-as antes de colocar e depois, para subtrair e ter o peso do cocô dele anotadinho), cantava para ele....
Gostava muito de conversar com os fisioterapeutas, que me acalmavam quando o nível de saturação dele caía. Houve uma vez em que ele se extubou acidentalmente e o fisioterapeuta teve de reanimá-lo na minha frente e na do noivorido... Mais um susto no qual tive de manter a aparência de controle e depois desabei no carro, a caminho de casa.

Mantive certos rituais obsessivos durante a estadia do Dudu na UTI-UCI. Se eu estivesse em casa, lia relatos de sucesso de bebês prematuros, principalmente do site Prematuridade.com. Após o banho, eu tinha que passar o desodorante 4 vezes em cada braço, borrifar perfume 5 vezes e, quando chegasse na UTI, tinha de abrir a torneira, apertar o dispenser de sabonete 2 vezes, lavar as mãos, puxar o papel-toalha 3 vezes, fechar a torneira e apertar o dispenser de álcool em gel 2 vezes. Esses rituais foram necessários para que eu não perdesse a minha calma e eu acreditava que, fazendo isso, evitaria que mais coisas ruins acontecessem com meu filho.

No final de fevereiro, após uns 10 dias na UTI e uns 5 de tubo,cheguei lá e vi meu Dudu num C-PAP. Todo dia, a partir daí, me despedia dele dizendo "Mamãe vai, mas deixa o coração dela aqui, meu amor. Não deixe de nos surpreender pro bem. Vamos combinar de você continuar no C-PAP ou , melhor ainda, em um capacete de oxigênio!". O noivorido ia pela manhã e eu pela tarde e só saía de noite. Eu procurava demorar ao máximo, pois não sabia quando seria a próxima vez que veria o Dudu. 

Desmame de oxigênio sendo feito aos poucos (e após muita oração a São Jorge, Nossa Senhora e Dr. Bezerra de Menezes), Dudu volta à UCI, no capacete de oxigênio. Lembro da enfermeira que fez a transferência dos leitos dizer "não aceitamos devolução, hein", comemorando comigo. Enquanto isso, minha recuperação da cirurgia melhorava a cada dia, permitindo que eu ficasse mais tempo com ele, dando colo e cuidando, quase como mãe e filho normais. A cada colo mais prolongado, menor a necessidade do tubinho de oxigênio acoplado ao capacete.
Meu amorzinho no seu capacete, com bem pouco oxigênio porque os pulmões estavam tinindo <3

Na manhã do dia 2 de março, decidi ir à Maternidade bem cedo. Minha mãe e meu noivorido chiaram, mas eu estava decidida a ficar o dia todo com o nenei, ter um gostinho da maternidade.
Algo me dizia.
Quando foi umas onze da manhã, ouço a pediatra de plantão perguntar por mim.
-Mãezinha, liga pro seu marido lhe buscar daqui a pouco que hoje mesmo o Eduardo vai receber alta da UCI e vocês vão para a Enfermaria Coruja.

A felicidade era tanta que nem me descabelei muito quando o noivorido demorou porque era época da enchente história do Rio Acre e havia apenas uma ponte trafegando todos os automóveis da cidade. 
Tomei banho, arrumei as malas -minhas e do Dudu-, com aquela música lymdra do Pablo na cabeça, hahahaha. 

E, após 17 longos dias, foi cantando "estou indo embora/ a mala já está lá fora" que Dudu e eu demos tchau às tias da UTI-UCI e fomos para a Enfermaria Coruja, o estágio que faltava para a tão sonhada alta hospitalar.

Continua...



quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mais uns ritos de passagem PARTE 2

Leia sobre a parte 1 nesse link


Foi na ultrassom das 9 semanas que começou efetivamente minha gestação, para a família.

Nenei dando tchauzinho na ultra de Translucência Nucal,segundos antes de virar as costas pra gente, já mostrando que é voluntarioso bagarai xD


Para os amigos, só soltei após a 16ª, por autopreservação. Sou dessas que creem em quebranto, mau-olhado e o escambau.

Fui em um obstetra para o pré-natal e ele começou dizendo que eu deveria me desfazer dos meus gatos, por causa da toxoplasmose, sendo que não tenho o protozoário, tampouco meus bichanos. Me desfiz foi do médico e procurei outro, conhecido da família e que me comprou com a promessa de um parto normal e humanizado, bem como um pré-natal detalhado.

A cada semana, era uma sensação de vitória.

No Halloween de 2014, descobri que seria um menino. Não hesitei em escolher um nome. Eu, que só lia sobre nome de meninas, decidi que ele seria um Eduardo, guardião das riquezas. Ou Dudu, que é como o chamamos agora. Foi quando soube que eu, feminista,ecumênica e ~alternativa~ teria a chance de parir e educar um homem pró-feminismo, tolerante com todas as religiões e com os mesmos valores em que acredito.

Ah, o universo de ser mãe de filho com pinto, hahahahahaa


Dudu foi crescendo, se desenvolvendo e me envolvendo numa rotina de endocrinologista, obstetra e nutricionista. Tomei doses de insulina, me privei de uma pá de coisa e a cada furada, eu pensava "é pelo Dudu".


Na véspera da internação, já mostrando os sinais de polidrâmnio e macrossomia. (Foto: @Zozoletinha)
Confesso que achei estranho o obstetra não me fornecer o celular, mas já tinha resolvido que teria o Dudu no hospital onde ele atua como plantonista.

Foi então que, no começo do oitavo mês, meu plano venceu e, com ele, vieram as contrações de treinamento, o inchaço e o aumento exorbitante da barriga. Fui ao hospital do obstetra fofinho, me internei pelo SUS  e fui tratada com tanto descaso e arrogância pelas plantonistas que ganhei uma baita duma laceração no períneo por causa de um exame de toque, fora a ladainha do "mas vc é diabética, aqui não temos suporte, yadda yadda yadda". O pior é que acabei concordando com elas, não sem antes mencionar que eu tinha, sim, como me internar pelo particular, mas fui convencida pelo obstetra fofinho (que não havia dado as caras na ocasião, muito menos me enviado uma palavra de conforto) que o SUS me daria o mesmo apoio.
Me encaminharam para a Maternidade pública e nisso eu tenho que confessar: foi a melhor coisa que a carniceira do toque fez por mim e pelo Dudu.

Foram 6 dias de internação para diminuir minhas dextros e lá mesmo já ouvia que a chance de eu fazer uma cirurgia cesariana era alta. Lá vai mais choro, adeus ao sonho do parto natural, clampeamento tardio de cordão...Tudo entre cardiotocografias, ultrassons e toques (dessa vez sem mais lacerações, graças aos residentes <3). A cada exame e a cada fuçada que eu dava nos artigos de Obstetrícia, me caía a ficha de que meu caso era alto risco e que o polidrâmnio+macrossomia eram realmente indicadores suficientes de cesárea.

Na véspera da cirurgia, esperando fazer uma cardiotocografia. (Foto: @Zozoletinha)

Na manhã de sexta-feira de Carnaval (uma sexta-feira 13), o preceptor da equipe que estudava meu caso decidiu que eu começaria a tomar as doses de corticoides para amadurecer os pulmões do bebê, visto que estava apenas com 35 semanas, para que assim ele nascesse na segunda-feira. Foi aí que, no cardiotoco que eu fiz naquele dia, Dudu se mexeu apenas uma vez. Era o sinal que a equipe cirúrgica esperava para que, na noite daquela sexta, a cesárea fosse feita.

Lembro até hoje de estar no meu leito, com o noivorido do lado, e o enfermeiro falar "e aí, mãezinha, pronta pra cesárea? Bora lá pro centro cirúrgico!"

E fomos. Conversei com o anestesista e pedi para que ele não me amarrasse, e assim ele o fez.
O celular do obstetra tocava The Zephyr Song, do RHCP.
Me esqueci do combinado com o anestesista no minuto em que vi aquela coisinha enorme (54 cm e 3,825 kg, às 35 semanas!) na minha frente.Só conseguia chorar de emoção, achando tudo lindo. Finalmente aparecia meu Dudu. A morfina foi tão forte que lembro de ter perguntado se ele realmente era meu, ao que os obstetras perguntaram se eu queria que colocasse ele de volta ahahahhaha

O noivorido, hematofóbico, esteve ao lado vendo a cirurgia toda e, ao contrário do que todos esperavam, não passou mal nem desmaiou. Era tudo tão lindo, mas mesmo na onda do amor notei que ele chorava fraco demais. Deitada ali na mesa, sendo suturada, assisti aos esforços da equipe para reanimá-lo, aspirando-o e fazendo todos aqueles procedimentos que, num parto de baixo risco, seria desnecessário. Ocorre que aquele parto, aquela mãe e aquele bebê eram de altíssimo risco.

"Fly away on my zephyr/I feel it more than ever/And in this perfect weather/We’ll find a place together"
Dudu e eu ficamos numa sala de estabilização, eu com ocitocina sintética na veia e ele no bercinho aquecido. 
Estranhei a demora, mas a verdade é que já estavam preparando um leito para ele na UCI (Unidade de Cuidado Intensivo) porque ele estava tendo dificuldades para respirar sozinho.

Começava, então, a saga de mãe de UTI e a ultimate quest do Dudu.

Continua....

Mais uns ritos de passagem PARTE 1

Em dois anos que não postava nada, resolvi retomar a escrita para não lotar o feed dos amigos do Facebook com os famosos textões, hehe.

Agora, além de continuar com a reflexões sobre papeis de gênero, incluo aqui as reflexões sobre a maternidade e sobre como foi meu processo de gestação, das duas que tive até agora.

Vamos lá?


Sinto que devo incluir brevemente a primeira gestação, que durou apenas 6 semanas até que eu tive um aborto espontâneo e tive meu primeiro baque emocional do ano.
Passadas duas semanas desde que havia descoberto a gestação, comecei a trabalhar. Talvez a rotina estressante tenha me feito sangrar por 15 dias, até que em um sábado tive uma pequena hemorragia. Fui ao hospital, fizeram uma ultrassom e não havia batimento cardíaco.Passei o embrião no hospital mesmo (é a mesma dor de um parto) e fiz uma curetagem. Hoje falo sobre o ocorrido normalmente, mas na época me doía, sempre me questionava o motivo e achava que nunca iria merecer um filho. Lembro que me diziam sempre "pelo menos você sabe que pode ter filhos" e queria esganar, rs.
Me sentia culpada por ser diabética tipo II desde os 15 anos e por não ter cuidado das glicemias, muito menos ter descansado.

Passei meses sentindo culpa e trabalhando até que, em junho, pedi minha demissão do emprego e comecei um curso noturno. Foi então que veio a Copa e as provas do curso. Lembro que tomava aquelas cápsulas de açaí e guaraná, altas em cafeína e extremamente abortivas.

Em julho, minha menstruação não veio e fiz  um teste de farmácia.
Positivo.
Não acreditei muito e comprei um segundo teste. Jackpot.Positivo de novo.

Foi quando os sangramentos recomeçaram. Confesso que passei dois dias de perna trepada e pensando que, se fosse outro aborto, que Deus levasse logo. Nessa época, tive de me apresentar num evento de anime e fui, sangrando muito e crente de que estava perdendo o bebê.
Vibe de "the show must go on" total

O sangramento parou na mesma semana e, influenciada pela minha mãe, fiz o tal beta HCG.
O resultado? POSITIVAÇO. Mas not enough.



Só caiu a ficha mesmo no dia 13 de agosto.Enquanto o avião com o candidato a presidente caía, eu via meu feijãozinho (como chama até hoje uma amiga querida <3) com o coração batendo, do alto de suas 9 semanas.
A derradeira ultrassom das 9 semanas <3